Asperger: inabilidade social escondida

Trecho do livro: THE AUTISM DISCUSSION PAGE: ON ANXIETY, BEHAVIOR, SCHOOL AND PARENTING STRATEGIES (“Página de discussão do autismo: ansiedade, comportamento, escola e estratégias parentais”), de Bill Nason – p. 135

Tradução: Audrey Bueno – grifos do tradutor

 

“O que pessoas sem o transtorno (principalmente pais e professores) precisam compreender é que parte do principal motivo pelo qual pessoas no espectro autista têm dificuldade em se relacionar é a questão das diferenças neurológicas. Nossos cérebros têm conexões neurológicas fortes entre os diferentes centros cerebrais que permitem a esses centros se comunicarem entre si. É isso o que nos permite processar informações múltiplas simultaneamente, muito do qual é feito num nível subconsciente, requerendo energia mental mínima.

Porém, para as pessoas no espectro, as interligações neuronais entre esses centros não estão bem desenvolvidas, tornando mais difícil para esses centros se comunicarem, reduzindo a capacidade do indivíduo de processar múltiplas informações simultaneamente. Enquanto nós rapidamente processamos essas informações num nível subconsciente (intuitivo), as pessoas no espectro autista precisam processá-las sequencialmente, um pouco de cada vez, num nível consciente. Elas têm que pensar sobre aquilo que fazemos intuitivamente sem pensar. Estas pessoas poderão, eventualmente, chegar às mesmas conclusões, mas o tempo necessário para tal será maior e o processo irá requerer mais energia mental.

Isso drasticamente afeta relacionar-se com os outros. Quando interagimos com alguém, nós temos que processar múltiplas informações rapidamente. Quando ouvimos alguém falar, nós processamos as palavras que eles estão dizendo, o contexto em que são ditas, a entonação e inflexão de voz, expressões faciais, gestos e linguagem corporal, para entendermos o que a pessoa quis dizer. Nós rapidamente fazemos uma leitura de toda essa informação para podermos entender os pensamentos, emoções e intenções das pessoas. Ao mesmo tempo em que estamos processando tudo isso, estamos formulando como nos sentimos e o que pensamos sobre isso, além de como iremos responder. Ao mesmo tempo em que respondemos, estamos lendo as dicas não verbais das pessoas para checar se estão nos entendendo e se estão interessadas no que estamos dizendo.

Para focarmos no tópico da conversa, precisamos processar a maior parte dessa informação não verbal de modo subconsciente, com mínima energia mental. Isso permite nos relacionarmos com outras pessoas sem muito esforço. Contudo, pessoas no espectro autista têm que processar essas informações em pequenas frações, sequencialmente e num nível consciente, pensando em cada pequena coisa. Uma vez que estas pessoas tenham dificuldade em processar a informação simultaneamente, o processo leva mais tempo e é geralmente inadequado, tornando difícil ler a situação com mais amplitude. Assim, para tentar acompanhar a conversação, eles acabam processando algumas partes e deixando outras de lado, o que gera perda de parte do significado da conversa. Às vezes, quando a pessoa acaba de processar o que foi dito e formular uma resposta, a conversa já mudou para um novo rumo.

Para pessoas no espectro, isso tudo pode ser muito desgastante mental e emocionalmente. Esse é um dos principais fatores pelos quais ambientes sociais podem ser tão estressantes para estes indivíduos.

Embora tudo isso seja comum em pessoas no espectro autista, esse déficit pode ser difícil de perceber em crianças com Asperger. Estas crianças podem ser muito inteligentes e, ainda assim, ter esse problema de processamento. Isso é difícil para as pessoas entenderem. Elas assumem que uma vez que a criança seja tão inteligente e verbal, ela pode estar intencionalmente escolhendo interpretar erroneamente as instruções e agir de maneira diferente dos outros. Muito de Asperger é um déficit escondido, em que as reais dificuldades estão mascaradas. É por isso que treinamento e conscientização das pessoas significativas na vida da criança com Asperger é importante, para que a falta de entendimento não acarrete em rótulos morais injustos e nocivos para a autoestima da criança”. (Bill Nason, 2014)

 

“Pessoas que precisam de ajuda às vezes se parecem muito com as que não precisam.”    

Glennon Melton

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