O Lado Negativo da Síndrome de Asperger para os Homens

Artigo original escrito por Mark Hutten

Tradução de trechos do artigo por Audrey Bueno

Muitos homens com a síndrome de Asperger (SA) – também referido como “autismo de alto funcionamento” – nunca foram diagnosticados e são percebidos como excêntricos, um pouco estranhos ou solitários. Se você estiver num relacionamento com um homem no espectro do autismo, você provavelmente já deve ter notado muitos dos traços listados abaixo. […]

Homens com Asperger geralmente têm alguns dos seguintes traços, que irão variar tanto em número quanto em nível de severidade de pessoa para pessoa:

  1. Geralmente vivem “num mundo próprio deles”
  2. A atenção é estreitamente focada em seus interesses pessoais
  3. Podem ser obsessivos
  4. Podem ser preocupados sobretudo com os próprios planos
  5. Podem ser muito críticos de si mesmos e dos outros
  6. Podem ser bastante defensivos quando alguém pede maiores explicações ou solicitam alguma solidariedade ou compaixão
  7. Podem engajar em atividades (às vezes mundanas) por horas a fio
  8. Podem tornar-se obcecados em terem amigos para provar que não tem nada de atípico com eles
  9. Podem ser distantes física e/ou emocionalmente
  10. Podem passar horas pesquisando seus assuntos de interesse
  11. Colecionam coisas
  12. Há desejo por amizades e contato social, mas apresentam dificuldade em fazer amizades ou mantê-las
  13. Dificuldade em compreender os sentimentos dos outros
  14. Nem sempre reconhecem rostos prontamente (às vezes até mesmo de familiares)
  15. Acham as emoções confusas e desconfortáveis
  16. Grande dificuldade com conversa superficial social trivial ou bate-papo
  17. Têm uma necessidade forte em oferecer informação, de tal forma que possam soar rudes ou como se o que tivessem dito fosse um insulto
  18. Foco intenso em um ou dois assuntos em especial
  19. Falta de empatia com certa frequência
  20. Falta de interesse em outras pessoas
  21. Podem ser bem rígidos quanto ao que gostam ou não
  22. Interesses restritos
  23. Podem ser desastrados ou terem movimentos corporais descoordenados
  24. Podem achar a necessidade da(o) parceira(o) em “conectar-se” sufocante
  25. Podem ter uma expressão facial neutra ou “em branco” na maior parte do tempo
  26. Podem ter dificuldade em dizer “eu te amo” ou em expressar afeto fisicamente
  27. Têm forte necessidade de isolamento e solidão
  28. Podem ter personalidade excêntrica
  29. Podem ter apego incomum a objetos
  30. Podem ter dificuldade em permanecer na universidade apesar da alta inteligência
  31. Podem fazer poucas tentativas em manter uma amizade ativa
  32. Podem fechar-se em situações sociais
  33. Problemas com a comunicação não-verbal (como dificuldade em ler linguagem corporal, expressões faciais e tom, por exemplo)
  34. Geralmente sentem como se a(o) parceira(o) estivesse sendo ingrata(o) ou mau caráter quando reclama (por exemplo, ao dizer “você não liga pra mim” ou “você nunca me ouve”)
  35. Geralmente levam tudo num nível pessoal
  36. Rotinas repetitivas ou rituais
  37. Comportamento social rígido devido à dificuldade em adaptar-se espontaneamente às variações nas situações sociais (dizem sempre a mesma frase de expressão de afeto, servem sempre a mesma coisa ao receber visitas, etc.)
  38. Sensibilidade quanto às texturas dos alimentos
  39. Determinados, rígidos nas decisões
  40. Peculiaridades na linguagem ou discurso, ou quando crianças podem ter tido algum atraso de linguagem
  41. Forte sensibilidade sonora, visual, olfativa, do paladar ou toque
  42. Discurso repetitivo (por exemplo, podem frequentemente repetir o que você acabou de falar)

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De modo algum, a informação acima tem o objetivo de desencorajar relacionamentos com homens com Asperger, e sim apenas de lançar luz às dificuldades mais comuns, lembrando que eles também costumam ter muitas qualidades. Podem ser responsáveis, sérios, inteligentes, esforçados e dificilmente dados a mentiras e traições. Estes homens frequentemente dão o melhor de si num relacionamento, mas é comum que seu parceiro ou parceira não compreendam a extensão de suas dificuldades e acabem julgando estes traços como “defeitos que poderiam ser corrigidos se o homem apenas se empenhasse mais”, quando eles têm real dificuldade em fazê-lo, levando-os a se sentirem depreciados, incompreendidos, não amados e ressentidos, sentimentos que são reforçados pela dificuldade em se colocarem no lugar do parceiro e compreenderem as frustrações do outro também.

Numa relação, qualquer que seja sua natureza – afetiva, amizade ou profissional – será, portanto, importante que ambos os lados tenham consciência das dificuldades envolvidas, da intencionalidade ou não intencionalidade dos comportamentos observados, da possibilidade ou não possibilidade de mudança, e do quanto cada um pode investir em busca dessa harmonia.

40 comentários sobre “O Lado Negativo da Síndrome de Asperger para os Homens

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  2. E qdo a pessoa tem todas as características de um asper e não procura ajuda dizendo que é feliz assim, o que fazer? O meu namorado tem quase todas essas características e diz que é feliz assim.

    • De fato, quem precisa sentir a necessidade de procurar ajuda é a pessoa que vive as dificuldades de um transtorno. Pessoas com Asperger podem se habituar a serem como são, pois para elas muita coisa que os outros enxergam como transtorno são o jeito natural dela serem. E cada um tem sua razão. Muitas vezes, num relacionamento em que um parceiro é neurotípico (sem Asperger) e o outro tem Asperger, quem costuma vivenciar um sentimento de falta, de carência, é o neurotípico, pois ele nunca terá supridas coisas que são importantes para ele, mas que estão acima das possibilidades do que alguém com Asperger pode oferecer. Em relações assim, em que é preciso mudar a natureza do outro para que sejamos felizes, ainda mais quando essa natureza é de fundo neurobiológico, ou seja, não basta que o outro apenas ‘queira’ mudar, existe um impedimento neurológico para isso e para o próprio modo com que enxerga a situação, acaba restando somente um caminho: ou a pessoa sem Asperger aceita o outro como ele é, ciente de suas limitações, e apreciando as outras coisas que ele tem de bom (como honestidade e sinceridade, por exemplo), ou parte para outro relacionamento, pois infelizmente a pessoa com Asperger dificilmente conseguirá mudar o suficiente para atender as expectativas de um parceiro sem o transtorno, por mais que se esforce e mesmo que procure um acompanhamento terapêutico, que, nesse caso, poderia oferecer melhoras, mas não necessariamente alteraria o funcionamento base da pessoa. Se seu namorado diz que é feliz assim, ele já está dizendo que não irá mudar. Se você pergunta o que fazer, você já está dizendo que não se sente feliz com isso e que não tem conseguido aceitar as coisas como são. Às vezes, o parceiro neurotípico é aquele que acaba se beneficiando de ajuda psicoterapêutica (procurando um psicólogo) para ter alguém que o ajude a pensar em todas as possibilidades que a relação oferece e o que ele pode ou quer fazer em relação a isso. Talvez você queira ler esse artigo da revista Época: http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/04/meu-marido-bnao-entende-b-emocoes.html

      • Boa noite!! Sei bem o que a amiga colocou, vivo o mesmo que ela, mas pra intensificar a situação, sou portadora de TDAH. Agradeço a colocação de Audrey Bueno, e aproveito para pedir um “socorro”, pois o meu médico diz que dificilmente nossa relação será bem sucedida… Me vejo cada dia mais frustrada, não somente pelas carácteristicas dele, mas tb por saber que minhas dificuldades aumentam devido às características TDAH … começamos terapia de casal, espero que nos ajude a nos entendermos melhor e que isso facilite a nossa convivência.

      • Acredito que o socorro que você busca pode ser conseguido através da terapia de casal que iniciaram. Se a terapia vai conseguir que vocês tenham uma melhora no relacionamento ou não, só o tempo irá dizer. Porém, estar em processo terapêutico pode ajudar a observar aspectos importantes quanto ao funcionamento e limitação de cada um e o quanto querem ou podem fazer pelo futuro do relacionamento.

      • Eu bem que queria ter esse problema.A verdade é que todas as garotas me rejeitam logo de principio e eu sofro muito com isso.Ninguém me da sequer uma chance e não entendo porque.

      • Daniel, você já tentou psicoterapia? Pode ser útil para ajudá-lo a entender melhor o que acontece e o que é possível fazer em relação a isso. Quando entendemos melhor a nós mesmos e temos melhor compreensão da perspectiva do outro, temos mais chances de vivenciar relacionamentos positivos.

    • O meu marido também ,fala q ele não tem nenhum problema e q e feliz ,não quer buscar ajuda,pra ele tá TD certo,eu que sou exigente na versão dele, sou mal agradecida , nunca estou feliz e não tenho motivo pra isso!

  3. Boa noite me chamo Eduardo tenho 40 anos tenho muitas das coisas citadas na discrição.
    Não gosto de ficar perto de pessoas tais como ônibus sempre acho que esta todo mundo olhando pra min,no meu trabalho não consigo trabalhar em equipe e se tiver alguém conversando perto de mim se estiver no minimo assistindo televisão me tira a concentração totalmente,sempre desde pequeno gosto de ficar isolado em um ambiente escuro se alguém acender a luz fico irritado sem perceber.
    estou escrevendo isso porque sou casado e as vezes não quero ficar nem perto da minha esposa isso esta acabando com meu casamento, procurando algo parecido na internet achei esse site com as maiorias das coisas que tenho pois isso nunca comentei com ninguém sempre achando que iria ser criticado.
    Por favor se alguém souber qual especialista devo procurar?
    Infelizmente não tenho condições de pagar um especialista sabem se consigo pelo sus ou algo assim?
    Por favor.

    • Olá, Eduardo. Você deve procurar um psiquiatra, pois esse é o especialista que entende o seu tipo de sintoma. É possível, realmente, pela sua descrição, que você esteja inserido no espectro do autismo. Pelo SUS você consegue agendar com um médico psiquiatra. Não deixe de procurar ajuda, pois é muito sofrido sentir essas coisas sem que ninguém o entenda e sem que você receba algum tipo de tratamento de apoio. É muito provável que o psiquiatra te receite alguma medicação para ansiedade e irritabilidade, o que, embora não “cure” o problema, já que não há cura para esse tipo de coisa, pode, ao menos, melhorar significativamente sua qualidade de vida e bem-estar. Boa sorte!

      • Boa noite doutora.
        Agradeço a sua atenção pelas respostas.
        Parabéns doutora por dedicar algum tempo para tirar duvidas das pessoas pois essa pequena ação ajuda muito as pessoas a tomarem uma iniciativa para um possível tratamento amanhã mesmo já vou procurar um psiquiatra. Muito obrigado.

  4. Bom dia Dra.
    Gostaria de saber se o SA é hereditário? Tenho um “amigo” que tem um filho com SA. Já lhe perguntei se ele também tinha, ao que que ele respondeu que não sabia porque nunca foi diagnosticado; mas eu identifico muitos dos sintomas aqui descritos nele. Principalmente o desinteresse, a falta de empatia, a arrogância e a frieza / dureza com que ele por vezes me trata. Confundo isso com falta de sensibilidade e com a possibilidade de ele não estar interessado em mim. Não sei o que fazer, pois gosto dele mas não o entendo. Se tivesse a certeza, seria mais fácil entendê-lo e se calhar não levar tão a peito certas coisas que ele diz e faz, podendo inclusive ajudá-lo. Assim, resolvi afastar-me, pois estava a magoar-me muito, uma vez que nunca conheci ninguém que me fizesse sentir tão descredibilizada e posta de parte. Mas também sei que se ele de facto tiver SA, neste momento pode estar a sofrer horrores por eu me ter afastado. O que devo fazer? Como posso ter certeza? Se ele tiver SA, irá continuar a tentar aproximar-se de mim ou também ele irá desistir? Um factor importante é que vivemos longe um do outro, como tal eu não sei qual o comportamento dele em sociedade, pois nunca estive com ele num ambiente social ou de amigos.

    • Obrigada por seu comentário. Sim, a síndrome de Asperger é hereditária. Embora seja muito comum que a mãe ou o pai de uma criança com Asperger também tenha a síndrome, há diversos casos em que há muitos traços, mas não em número suficiente para configurar a síndrome completa. O caso do seu amigo pode ser Asperger, ou podem ser traços da síndrome apenas, ou pode, ainda, ser outra coisa, como Narcisismo ou Sociopatia, que configurariam quadros ainda mais sérios pelo poder destrutivo adicional que oferecem num relacionamento. Se for Asperger, há muito mais chance dele te procurar do que se for Sociopatia ou Narcisismo, condições essas que são frequentemente confundidas com Asperger, pois os comportamentos se parecem muitas vezes, mas são coisas consideravelmente diferentes. Caso queira, fique à vontade para enviar um e-mail na minha caixa postal para podermos conversar melhor: audreybueno@gmail.com. Seja sempre bem-vinda ao blog.

  5. Bom com 22 anos nunca tive qualquer experiência amorosa e no momento não tenho nenhum amigo, e tenho quase certeza que ficarei assim até morrer. Tenho o costume de me afastar de pessoas e esquecer elas totalmente, na verdade acho a interação social algo extremamente superestimado, no que eu observo não vejo pessoas que realmente se gostam, na gigantesca maioria dos casos elas só convivem com outros indíviduos por interesses mútuos(ir na balada, beber alcóol, sexo). Sempre tem um interesse por trás.

    Apesar de ser diagnosticado com Asperger e em todos os testes que faço sendo honesto a pontuação sempre bater altíssima, tenho uma excelente habilidade de ser um ator, fingindo emoções e me passando por uma pessoa neurotípica. Porque eu não faço isso 24hrs? É extremamente exaustante e chega 1 hora que sua mente não aguenta e você quer mandar todo mundo pro inferno. Tenho medo do meu futuro, pois ultimamente só me aproximo de pessoas se elas têm algo a me oferecer, como na maioria das vezes isso não acontece, fico só mesmo. Tive experiências ruins quando adolescente com amizades emocionais, então creio que fiquei meio frio com o tempo.

    Keine Freunden, Freundin und Leben, aber ich bin Stark jetzt ungefähr…

    • Você já pesquisou sobre o transtorno de personalidade narcisista? Não é raro que a síndrome de Asperger seja confundida com esse transtorno. Em breve, farei uma publicação no blog justamente sobre isso. É possível que alguém com Asperger também tenha traços narcisistas, mas isso é bastante raro, especialmente se os traços narcisistas forem muito fortes, pois geralmente uma condição exclui a outra. Você tem comportamentos repetitivos e sensibilidades sensoriais (luz, cheiro, barulho, toque [paladar menos, pois não ocorre apenas em quadros de autismo])? Tem interesse em que tipo de assunto? Tem algum hiperfoco (interesse excessivo num assunto em especial) de longa duração? Esses são traços que pesam em favor do diagnóstico de Asperger. Obrigada pelo comentário.

      • Tenho sensibilidades sensoriais bem fortes, e tenho uma rotina bem planejada. Gosto muito de história militar, leio sobre todo dia a quase 10 anos(tenho 22).

        Eu era mais “inocente” antes dos 16 anos, creio que foi o tempo e a falta de ajuda médica que originou esse comportamento.

    • Eu achava que Asperger ou autistas não tinham essa capacidade de fingimentos,mas meu esposo foi diagnosticado com Asperger depois de muitos anos de casados e eu percebo que quando a gente se desentende e “bicho tá pegando ,ele muda o comportamento,mas só por uns dois meses,depois ele volta ao comportamento que faz a gente brigar do tipo,nao querer conversar comigo sobre assuntos.meus,e principalmente se desfazer de assuntos que não dizem respeito a ele !

      • A pessoa com autismo leve, ou seja, sem prejuízo do intelecto, ou até mesmo com a inteligência acima da média, como é comum ocorrer no perfil Asperger, aprende estratégias para lidar com as situações da vida como todos nós ou até melhor em alguns casos, quando já existe um cronograma e planejamento prévio. Estar no espectro do autismo significa que a pessoa tem funcionamento predominantemente neurodiverso, mas isso não significa que ela não tenha uma porção neurotípica – que é como a das pessoas sem autismo – preservada e funcional também, ainda que menor.
        A dificuldade maior costuma estar na percepção do ponto de vista/mundo interno/aspectos emocionais e psicológicos do outro e nas interações sociais que necessitam de improviso, que pegam de surpresa ou que agridem sensibilidades específicas da pessoa autista.

      • Não é tão simples. O problema é que eu gosto de poucas pessoas. Se elas me rejeitam, não tenho plano B e caio no “vazio”

  6. Olá, tenho 29 anos e fui diagnosticado asperger aos 24, sendo que só fui aceitar ter totalmente a condição há cerca de um ano. Tenho vários dos traços caracteristicos como interesses repetitivos, hiperfocos, rotinas fixas e outros, apesar de sempre ter tido uma compreensão razoável de linguagem não-verbal; com todos esses traços, sempre alimentei um desejo de ter uma vida ´´normal´´, digamos assim, ter amizades e relacionamentos amorosos, mas algo estranho parecia me afastar das pessoas.
    Em relação aos namoros, tive só um que durou pouco mais de um ano quando já contava com 27 anos, apesar de ter tido pequenas aventuras bem antes disso.

    Sei que algumas caracteristicas como a neutralidade da face, sem nunca enruga-la durante as interações sociais, gesticulações incomuns com as mãos tmb durante as interações e um tom de voz um tanto impostado e formal sempre me fizeram ser visto como uma figura excêntrica pelas outras pessoas e sobretudo pelas mulheres. Haveria uma rejeição nata das pessoas em relação q quem guarda caracteristicas da condição? Ou só a auto-sabotagem e baixa estima natural de quem se encontra no espectro abalam suas relações sociais? É uma pergunta retórica, rs, mas acharia bacana vc comentar sobre.

    • Olá, Eduardo! Comentando sobre suas perguntas, eu diria que não é que haja rejeição das pessoas por aqueles que estejam no espectro, e sim duas outras coisas:
      a) a rejeição costuma ser, na verdade, não em relação à pessoa em si, e sim de algum comportamento específico que seja difícil para os outros lidarem, como, por exemplo, se a pessoa no espectro insiste muito em falar sempre sobre a mesma coisa, uma vez que não se dê conta de que seu assunto de interesse não é o das outras pessoas e tenha dificuldade em se colocar no lugar delas, pensando, por exemplo, em como também sentiria desinteresse e até evitaria conversa com alguém que só gostasse de falar de moda feminina (supondo que não seja esse um assunto do seu interesse, para exemplificar). Outro exemplo é a rotina fixa, que, embora traga conforto para a pessoa com autismo, costuma gerar tensão e tédio nas pessoas neurotípicas, que justamente gostam de diversificar a vida e relaxar em casa após um dia de trabalho, ou seja, a maioria das pessoas busca flexibilizar o que for possível e evitar rotina em excesso. Assim, é mais difícil para alguém com um perfil neurotípico se identificar com as características comuns às pessoas no espectro, mas isso não significa que não gostem delas, e sim que não encontram muitos pontos de afinidade de convívio em comum.
      b) o ser humano, ao longo da história evolutiva, aprendeu a temer e evitar o desconhecido, na época, como forma de sobrevivência da tribo, pois os recursos eram escassos e as tribos lutavam entre si para obtê-los, de modo que alguém diferente fosse imediatamente percebido como não pertencente ao grupo e, portanto, um membro de alguma outra tribo que, na maioria das vezes, era inimiga. O tempo passou, nós construímos civilizações, mas isso é algo ainda muito recente da história da humanidade, pois o ser humano vive em sociedades há cerca de 6 mil anos apenas, o que é um período ínfimo se comparado ao fato de que nossos ancestrais já existiam no planeta há cerca de 6 milhões de anos e a espécie do homem moderno evoluiu há cerca de 200 mil anos. Ou seja, nossa espécie passou praticamente toda a sua existência no planeta funcionando de forma rudimentar, pré-histórica, lutando por comida e abrigo e lutando contra o membro de outra tribo que se atrevesse a chegar perto. Portanto, embora sejamos hoje mais evoluídos, no sentido de que nossa sociedade criou meios para que (quase) todos se alimentem e tenham abrigo sem precisar entrar em disputas rudimentares para isso, o que acontece é que a informação do “medo do diferente” ainda permanece registrada em nosso DNA, ou seja, é um reflexo de medo involuntário da nossa espécie, e o medo costuma gerar sentimentos de evitação, muitas vezes sem qualquer motivo racional lógico, sendo mais apenas uma manifestação pré-histórica instintiva mesmo. Esse tipo de ‘herança instintiva’ é uma das bases do preconceito que, somada à ignorância e desconhecimento, fazem com que ele exista. Você vai observar que quanto mais instruídas e evolutivamente inteligentes as pessoas se tornam, menores os preconceitos que elas sustentam.
      E aí entramos na outra parte da sua pergunta, sobre auto sabotagem e baixa autoestima. Sim, isso também contribui para que os outros nos valorizem menos e nos critiquem mais, pois é como se estivéssemos “pedindo” e “autorizando” para que fizessem isso. Como eu havia dito, nosso lado instintivo ainda é muito forte, e a baixa autoestima emana sinais que fazem com os outros se sintam “empoderados” sobre você. Como o ser humano ainda tem esse lado competitivo na natureza dele, uma vez que o mais forte levava o peixe na antiguidade, ele ainda vai entrar em disputas de território, ou seja, depreciando o outro, ele se sente mais forte, e se você já sinaliza para que ele faça isso, é instintivo que ele vá fazer, salvo aquelas poucas pessoas que já conseguem usar mais a razão e menos os instintos.
      Por fim, uma última palavra para você e para todos aqueles que lerem nossos comentários: nunca devemos nos envergonhar por termos características diferentes de algum modo, afinal, a espécie humana é muito diversa e absolutamente todos nós, sem exceção, temos particularidades, sendo o conceito de normalidade vigente uma ilusão coletiva que não tem fundamento, pois na prática ninguém se encaixa nela (alguns fingem que se encaixam, mas o que vemos externamente, na maioria das vezes, não reflete o interior). Tem uma frase que gosto muito: “A normalidade é uma ilusão: o que normal para a aranha, é o caos para a mosca.”
      Obrigada pelo comentário. Seja sempre bem-vindo ao blog.

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  8. Boa tarde! Tenho um filho de 24 anos que ja está formado e tem um bom emprego público, desde criança passamos por vários especialistas, devido a fala tardia e as dificuldades de interação que ele apresentou, nunca tivemos uma resposta precisa, só suspeitas. Hoje, ele mora sozinho em outra capital e ainda não teve nenhuma namorada, ele ate ja tentou, mas foram tantas tentativas frustradas de ter um relacionamento que ele parece ter desistido. Como mãe eu fico preocupada, ja aconselhamos ele procurar um psicólogo mas ele não quer. Não sei como podemos ajudá-lo. Queria poder ajuda-lo de alguma forma, fico triste de ve-lo sozinho o tempo todo.

    • Atrasos na fala e dificuldade de interação social são alguns dos principais sintomas do autismo. É claro que somente por estes dois sintomas não é possível um diagnóstico, mas a suspeita é fortíssima. Quanto ao que fazer para ajudar seu filho, como ele já é adulto e dono da própria vida, se ele não deseja engajar num processo terapêutico, não há como forçá-lo a isso (e nem jamais se deveria). Além do mais, muitos adultos com autismo de alto funcionamento (que parece ser o caso do seu filho) não têm perfil para psicoterapia justamente porque não se sentem confortáveis nesse tipo de processo, onde precisam falar de si mesmos, compreender os próprios sentimentos e interagir, todas coisas muito difíceis para que está no espectro do autismo. Muitas vezes, a pessoa até engaja em terapia, mas não obtém resultados, nem sempre pelas próprias dificuldades, e sim porque são raros os terapeutas que realmente entendem o mundo interno de pessoas no espectro do autismo. Às vezes, a terapia com um psicólogo que não entenda de autismo pode ser mais prejudicial do que benéfica. Mesmo os pais precisam ter consciência de que a forma com que sentem as coisas é diferente da forma que a pessoa no espectro do autismo as sente, por exemplo, uma pessoa sem autismo tem muito mais necessidade de interação social que uma pessoa com autismo, ou seja, se sente duas vezes mais angustiada e triste por não ter ninguém, enquanto a pessoa autista pode, muitas vezes, estar se sentindo bem sozinha. Essa é uma queixa dele, estar sozinho? Ou sua? Se for uma queixa dele, talvez ajude buscar textos, canais do YouTube de adultos com autismo e grupos de conversa no Facebook para que ele interaja e troque experiências e angústias e sugira a ele ‘dar uma olhada’, sem pressionar, pois é comum que pessoas no espectro tenham muita resistência à pressão e expectativas dos outros. Se se sentirem minimamente obrigados, refutam a ideia sem nem analisá-la melhor. E, para você que é mãe, informe-se ao máximo, para ir ajudando seu filho a se compreender, e para evitar direcionar cobranças e expectativas sobre ele que podem afastá-lo de você. Muitas vezes, o impacto de uma mãe que entende do quadro e aprende a lidar com o filho tem um valor terapêutico grande, pois uma coisa que ajuda o adulto autista a se sentir melhor consigo mesmo é se compreender como pessoa, se aceitar como ele é e perceber que tudo bem se ele não cumprir todas as expectativas sociais que as pessoas do entorno têm. Meu blog tem muitos textos úteis, procurei fazer uma compilação das principais informações sobre Asperger (que é um autismo de alto funcionamento) justamente para oferecer a mais pessoas informações de qualidade sobre o assunto num só lugar. Muitos textos são voltados para crianças, mas a dinâmica é a mesma, ou seja, a questão central permanece igual para adultos. Há também textos próprios para adultos. Informação e aceitação são as duas coisas que mais ajudam um filho no espectro. Espero ter contribuído de alguma forma. Abraço e boa sorte.

  9. eu estou achando que tenho asperger sofro de ansiedade e não consigo manter meus amigos sempre me isolo e nao gosto de falar no telefone e fico fixado no meu namorado tem alguma relação nao gosto de trabalhar em equipe nem posso me concentrar direito com alguém perto me irritam os barulos das portar se alguem arrastra os pes se jogam uma porta sons agudos e as vezes quando tem muitas pessoas eu tendo ficar calado sem saber o que didez e logo procuro fazer alguma coisa pra que as pessoas nao achem que nao estou comodo

    • É uma possibilidade. Nesse caso, o ideal seria procurar um psiquiatra com conhecimento em autismo de alto funcionamento (preferencialmente por indicação, pois nem todos os psiquiatras estão familiarizados com as diversas manifestações de autismo) para fazer uma avaliação adequada.

  10. Bem interessante, meu último relacionamento foi há 8 anos atrás e creio nunca mais ser possível eu criar laços afetivos com outras pessoas. Foi bem desgastante e ficar sozinho foi a melhor escolha, a vida já é bem complicada pra nós, e hoje as pessoas não aceitam nossas diferenças. Então é uma troca que considero justa.

      • Não deixe que a angústia lhe consuma. Busque apoio, seja com um psiquiatra ou um psicólogo. Às vezes, nossa percepção da realidade precisa de ajustes para que sejamos menos escravos das ilusões, o que é comum quando não se tem, por exemplo, um relacionamento amoroso, ao idealizarmos sua suposta perfeição ou fonte de felicidade e realização. Outras vezes, o que nos impede de estabelecer um relacionamento são aspectos de nós mesmos que poderiam ser transformados com o autoconhecimento e desenvolvimento de estratégias.

      • É raro eu me apaixonar por alguém. E quando essa pessoa se afasta de mim, como agora eu sofro muito. Pior que eu não consigo me imaginar longe dela de vez e não consigo superar isso. Estou entrando em depressão.

  11. Olá, tenho 26 anos, sou estudante de fisioterapia e estou namorando. Fui diagnosticado com TOC e fobia social na infância, tenho gagueira e apesar de ter melhorado em muito no meu desenvolvimento graças ao trabalho o fato de ter trabalhado, tenho coisas que estão comigo desde a minha infância. Sempre tive muitas “manias”, que chegavam ao nível de ficar metade do dia fissurado em compulsões bizarras, como alinhar coisas, lavar as mãos em um numero “par” de vezes, etc. Também sempre gostei de estar sozinho, de ficar no meu mundo e com um círculo social bem limitado, de sair pra caminhar e andar de bicicleta ouvindo musica pra aliviar estresse e sempre tive muita dificuldade em manter amizades e até mesmo relações com quase todos os familiares, por não ter tanto interesse em amizades. Também tenho muita dificuldade de manter foco em tarefas que não me trazem empolgação ou prazer, o que me atrapalhou muito durante o ginásio e o ensino médio.

    Mas venho aqui trazer certas questões: tenho muito medo de que esses meus problemas afetem meu relacionamento e até me afetem profissionalmente, pois as dificuldades de expressar desejos e sentimentos, o foco excessivo que dou a certos assuntos (política, países e biologia) e as minhas manias podem acumular frustrações no meu relacionamento a longo prazo. Também o fato de eu perder horas do dia pesquisando assuntos mundanos que fogem da temática da faculdade podem afetar minha formação e minha qualificação. Até mesmo o fato de eu me sentir muito desconfortável em locais com muitas pessoas e muito barulho já me atrapalhou durante minha fase de empregado, pois andar de ônibus era uma tortura e já cheguei varias vezes tarde em casa só pra não ter o desprazer de ter que entrar em um ônibus com muita gente me encostando e com tanto barulho. Fico extremamente ansioso.

    De tanto me sentir desconfortável e “anormal” em todo lugar, pesquiso sobe esses meus “problemas’ e como lidar com isso, e SEMPRE aparece sobre Sindrome de Asperger. O que será que eu posso ter? Qual é a sua orientação para que eu possa conseguir um diagnóstico e ter um tratamento adequado pra superar esses problemas?

    • Olá, Thiago. Pelo seu relato, parece, sim, bastante possível que você tenha algum grau de autismo (possivelmente Asperger) associado a TOC e transtorno de ansiedade (duas comorbidades muito comuns em Asperger). O diagnóstico é feito preferencialmente por um psiquiatra, mas sugiro que busque um por indicação e que você tenha alguma confirmação prévia de que ele tenha conhecimentos sobre a síndrome de Asperger em adultos, pois nem todos têm. Ainda assim, a psiquiatria é a melhor especialidade médica para que você encontre um profissional que entenda do quadro. Se sua qualidade de vida é afetada pela ansiedade e pelos rituais, aversões e obsessões, saiba que existem medicações (a serem prescritas e acompanhas pelo psiquiatra) que podem aliviar muito tudo isso e melhorar sua qualidade de vida. Além disso, sempre existe a possibilidade de buscar atendimento psicológico para lidar com suas angústias e dificuldades diárias e encontrar melhores estratégias para lidar com elas, mas, novamente, sugiro que busque um psicólogo por indicação e certifique-se de que ele entende de autismo de alto funcionamento em adultos (é o tipo de autismo em Asperger, ou seja, sem prejuízo do intelecto ou da fala e boa funcionalidade geral). Sempre há o risco de passar por profissionais menos esclarecidos nesse quadro, que ainda não é de amplo conhecimento para muitos profissionais, de modo que se um não der certo, busque outro. Eu recomendaria a busca por um psiquiatra primeiro. Provavelmente você fará uso de alguma medicação (não existe medicação específica para autismo, e sim para as comorbidades, como ansiedades, fobias, depressão) e a partir daí é que você avaliará sua disposição e necessidade em procurar um psicólogo. Alguns Aspies se dão bem em terapias psicológicas, outros não têm interesse ou disposição interna para isso. Você é quem vai descobrir o que funciona melhor para você. Se você for de São Paulo, posso te indicar um psiquiatra. Se interessar, me avise. Boa sorte! Seja sempre bem-vindo ao blog.

  12. Jaz faz mais de um ano desde meu último comentário e nada mudou. Inclusive, piorou com a pandemia. Nunca tive um momento íntimo com uma mulher e tenho medo que isso seja permanente. Eu estou envelhecendo e perdendo a energia para fazer outras coisas. Mesmo assim, continuo muito melancólico, para não dizer triste mesmo

  13. As garotas que eu gosto geralmente não se interessam por mim. Então eu vivo um dilema, porque da a impressão que não tem ninguém para mim. Eu precisava conviver com alguém para saber se a pessoa vale a pena, mas ninguém permite.

  14. Ola. Muito informativo! Sou neurotipica. Casei com um
    Aspergers. A comorbidade dele é TDAH. Estudei e procurei compreendê-lo, suprir sua carência afetiva para ajudar com a baixa autoestima. O que eu não peguei de aceitar foi a impulsividade com explosões de Ira e agressividade. Primeiro verbal e logo física. Estamos separados ha 4 anos. Mas não divorciados. Ele se recusa a fazer terapia ou tomar algo para regular suas variações de humor. Diz que não é doente. Mas propôs fazermos terapia de casal. Disse que não desiste de nós, pois eu fui a única parceira que realmente o amou e a quem ele realmente amou. Estou na dúvida se tento novamente… obrigada 🙏 Muito útil o texto!

    • Carmen, obrigada pelo comentário. A terapia de casal pode ser uma porta de acesso para que ele perceba melhor o impacto do comportamento dele sobre você e isso pode levá-lo a rever a postura rígida de não aceitar qualquer forma de tratamento, incluindo o medicamentoso, pois, para quadros de autismo, TDAH e oscilações de humor, a medicação costuma ser a única coisa que realmente ajuda, uma vez que tudo isso deriva de funções alteradas na biologia do cérebro. Inclusive, ele próprio se sentiria melhor, pois também não é fácil pra ele viver no tumulto interno que tudo isso gera, com muita ansiedade, angústia e pensamento acelerado. A terapia pode ser também um momento muito rico para que você olhe de maneira mais clara para a relação e decida o que realmente deseja fazer, ou seja, se irá querer retomar ou manter a separação. Uma dica: ao procurar um terapeuta, busque alguém com boa noção neuropsicológica, conhecimentos de autismo em adultos e preferencialmente que não siga a linha da psicanálise. Abraço e boa sorte!

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