Trecho do livro: THE COMPLETE GUIDE TO ASPERGER’S SYNDROME, de Tony Attwood (p. 41), 2015.
Tradução: Audrey Bueno
“A vantagem para a criança em ter um diagnóstico é não somente a de prevenir ou reduzir os efeitos negativos de algumas estratégias compensatórias que elas inevitavelmente utilizam para lidar com as dificuldades (o que pode, a longo prazo, inibir o desenvolvimento de uma autoimagem e personalidade mais centradas), mas também remover preocupações sobre outros diagnósticos mais graves, como quadros psicóticos, por exemplo. Além disso, a criança pode ser reconhecida como tendo dificuldades genuínas em lidar com experiências que as outras pessoas acham fáceis e agradáveis. Quando um adulto, por exemplo, tem problemas com aspectos não verbais da comunicação, especialmente contato visual, pode haver uma interpretação negativa por parte do público geral de que a pessoa tenha uma doença mental ou intenções ruins. Uma vez que as características de Asperger sejam explicadas, tais interpretações podem ser corrigidas.
Crianças com a síndrome de Asperger não têm qualquer característica física que indique que elas são diferentes, e ter habilidade intelectual pode levar os outros a terem altas expectativas também em relação ao seu entendimento social. Uma vez que o diagnóstico seja confirmado e entendido, pode haver uma mudança significativa positiva quanto às expectativas dos outros, aceitação e suporte. A criança passa a ser melhor compreendida, o que contribui para que seja mais respeitada. As críticas dão lugar a elogios pelas realizações sociais que ela for conseguindo desenvolver, e o reconhecimento da confusão e exaustão que esta criança enfrenta por ter que aprender 2 currículos na escola – o currículo acadêmico e o currículo social – passa a existir.
A vantagem de reconhecer e compreender o diagnóstico, para os pais, é que, enfim, eles têm uma explicação para o comportamento e habilidades atípicas do filho, e o conhecimento de que a condição não é causada por algo inadequado que os pais tenham feito. A família passa a ter acesso à informação sobre a síndrome de Asperger e pode desenvolver estratégias para lidar com as dificuldades que beneficiarão toda a família. Outra vantagem é que pode haver maior aceitação e acolhimento por parte da família e amigos. Os pais agora podem dar uma explicação aceitável sobre o comportamento atípico do filho. Isso é importante para essa família, que sofre injustamente todo tipo de acusação, desde ter se isolado dos parentes e eventos familiares até serem pais inadequados, que estariam causando “traumas emocionais” ou “mimando demais” os filhos.
As vantagens para a escola, especialmente para os professores, é que o comportamento e perfil social, cognitivo, linguístico e motor dessas crianças são reconhecidos como um transtorno de desenvolvimento legítimo, facilitando o acesso à informação adequada sobre o assunto. O diagnóstico pode inclusive ter um efeito positivo nas atitudes das pessoas que lidam com essa criança na escola, e até mesmo em relação às outras crianças em sala de aula, caso os pais optem por revelar o diagnóstico, o que pode facilitar muito a aceitação e acolhimento dos colegas para com a criança. O professor poderá explicar aos outros membros da equipe porque aquela criança pensa e age de modo diferente.
Conhecer o diagnóstico possibilitará à criança, nos anos por vir, um maior autoconhecimento, reconhecimento de suas habilidades e dificuldades, auto respeito e melhor tomada de decisões em relação a carreira, amizades e relacionamentos. Na vida adulta, o diagnóstico poderá trazer um senso de validação e otimismo, por se auto conhecer e ter a certeza de não ser “problemático” ou “insano”, e sim apenas diferente, tanto no sentido de possuir habilidades extraordinárias, como no de ter que lidar com dificuldades que não são comuns à maioria das pessoas.
No entanto, também há desvantagens acerca do diagnóstico, no sentido de como a pessoa e os outros percebem as características da síndrome. Se o diagnóstico foi compartilhado em larga escala, haverá inevitavelmente algumas crianças e adultos que farão mau uso dessa informação e podem atormentar ou depreciar a pessoa com síndrome de Asperger. Deve haver cuidado ao se usar o termo “síndrome de Asperger” porque pessoas menos informadas e crianças maldosas podem corromper seu significado numa variedade de formas.
O diagnóstico tem o principal objetivo de facilitar o apoio, compreensão, validação e contribuição para expectativas realistas em torno do funcionamento da criança, mas não são de modo algum capazes de ditar os limites máximos da capacidade que a pessoa pode atingir. Em minha experiência clínica, conheço adultos com a Síndrome de Asperger cujas carreiras bem-sucedidas variam de professor de matemática à assistente social, engenheiro ou profissional da tecnologia, e aqueles cujas habilidades de relacionamento variam de viverem satisfeitos sozinhos à terem companheiros de longa-data e serem pais muito amados por seus filhos”. (Attwood, 2015)
Sobre o autor: Tony Attwood, PhD, é psicólogo clínico em Brisbane, Austrália, especializado em transtornos do espectro autista, com mais de 30 anos de experiência acompanhando pessoas com autismo. Ele também é professor adjunto na Universidade Griffith, em Queensland – Austrália, e autor do best-seller Asperger’s Syndrome: A Guide for Parents and Professionals, além de outros títulos relacionados.