Características de Crianças com Autismo Clássico

 

TRANSTORNO AUTISTA “CLÁSSICO”

(difere da síndrome de Asperger em alguns pontos)

SINTOMATOLOGIA GERAL

 

A seguir está uma lista das principais características encontradas em crianças no espectro autista de modo geral, com foco no transtorno autista, também conhecido como “autismo clássico”.

Dependendo do tipo de autismo, haverá maior ou menor prevalência, ou mesmo ausência, de algumas das características listadas abaixo.

A síndrome de Asperger tem algumas particularidades que diferem da descrição a seguir, motivo pelo qual recebeu uma lista própria de sintomas. No entanto, diversas das características constantes nessa lista certamente serão encontradas também na síndrome de Asperger, pois todos os tipos de autismo têm uma base em comum, distribuídas num espectro.

É importante lembrar que o grau de severidade com que cada um desses sinais se apresenta depende do lugar em que a criança se encontra no espectro (leve – moderado – severo), podendo apresentar fortemente a característica, tê-la apenas de forma leve ou nem mesmo apresentá-la.

 

AUTISMO

CARACTERÍSTICAS – SINAIS E SINTOMAS

  1. Evitação ou indiferença ao contato social, geralmente se afastando das outras crianças, não compartilhando das brincadeiras delas e preferindo brincar só. Em casos mais severos, a criança nem mesmo se dá conta da presença do demais, permanecendo completamente alheia ao ambiente. Contrário ao que os mitos dizem, existe um subgrupo de crianças com autismo conhecido como “autistas sociais”. Nesse subgrupo, a criança deseja o contato social, mas não sabe como comportar-se para conseguir estabelecer relações sociais efetivas.
  2. Podem não perceber caso alguém entre, saia ou esteja no ambiente em que elas se encontram.
  3. Extremos de vínculo: apego excessivo a uma pessoa, geralmente a mãe ou o cuidador principal, ou indiferença a qualquer pessoa, até mesmo a mãe ou cuidador principal, podendo inclusive, quando bebê, ir no colo de qualquer pessoa sem parecer fazer diferenciação entre pessoas estranhas ou conhecidas; essa indiferença é, errônea e ironicamente interpretada pelos familiares como “alta sociabilidade”.
  4. Extremos de atividade: hiperatividade ou passividade excessiva. Quando bebês, podem ser crianças excessivamente calmas, que passam horas no próprio berço olhando o teto.
  5. Extremos da fase oral: tendência a não explorar o ambiente, não pondo objetos na boca durante a fase oral (que vai de 0 a 2 anos) ou continuar levando tudo à boca muito depois do término da fase.
  6. Atraso, dificuldade ou mesmo ausência completa de fala. Cerca de 50% das crianças afetadas nunca desenvolvem a fala.
  7. Fala repetitiva, ecolalia.
  8. Relutância/negação em falar “oi” ou dizer/acenar “tchau”.
  9. Confusão de pronomes, geralmente entre “eu” e “você”, ou falando de si mesma na terceira pessoa, por exemplo: a pequena Aninha diz “Aninha quer água” em vez de “Eu quero água”.
  10. Apego e/ou interesse acentuado por objetos; prefere ter o bicho de pelúcia como amigo em vez de outra criança. Esses objetos podem, muitas vezes, ser inusitados, como pedaços de papel, linhas, uma tampa, etc.
  11. Não compartilham seus brinquedos.
  12. Objetos são empilhados, enfileirados, organizados ou rodados/girados com frequência.
  13. Interesse por partes especificas de um brinquedo ou objeto, como tampas, portas, rodas, etc., em vez de usá-lo como normalmente se faz. Pode, por exemplo, virar o carrinho e ficar girando suas rodas em vez de brincar com ele como se fosse um carro, ficar abrindo e fechando uma panela em vez de brincar de fazer comida nela, fixar-se em ficar abrindo e fechando a porta da casinha em vez de brincar com a casinha como um todo ou ficar encaixando copos uns nos outros em vez de brincar de tomar algo neles.
  14. Observação de detalhes no ambiente pouco relevantes aos demais, como rachaduras no teto, buraquinhos na parede, pintinhas ou marquinhas na pele, etc.
  15. Tendência a rituais a partir de atividades cotidianas simples, que procura fazer sempre do mesmo jeito ou na mesma ordem, como se estivesse sempre criando regras gerais sobre como as coisas funcionam no mundo, por exemplo: vestir-se colocando cada peça de roupa sempre na mesma ordem, por o copo sempre no mesmo lugar após tomar água ou eleger apenas um determinado copo para uso, não poder tirar o tênis sem antes tirar a blusa, não poder escovar os dentes sem antes guardar a pasta de volta na prateleira, etc.
  16. Alimentação seletiva.
  17. Sensibilidade sensorial alterada: percepção de quente e frio prejudicada (quer usar blusa no verão e camiseta no inverno, ou acha que a temperatura morna da comida é muito quente e prefere a comida fria, por exemplo), percepção dos 5 sentidos alterada ou aumentada (um barulho pouco incômodo para as pessoas pode ser insuportável para a criança com autismo, a luz normal do ambiente pode causar razoável desconforto, a percepção de barulhinhos que os outros não notam, como tiques de um relógio ou o barulho da lâmpada fluorescente, podem ser excessivamente incômodos, etc.)
  18. Dentre as sensibilidades sensoriais, uma das que mais comumente geram pavor é a sensibilidade auditiva. Alguns dos sons que mais frequentemente causam reações de medo excessivo são: o aspirador de pó, o secador de cabelos, a furadeira, estouros (rojões, bexigas) ou objetos que fazem estardalhaço (como panelas) ou que batem causando som brusco e repentino (como um livro ou uma cadeira que caem no chão, uma porta que bate, uma pessoa que grita ou até mesmo ri alto).
  19. Podem apresentar os seguintes movimentos com frequência: bater palmas, balançar as mãos no ar, pular, rodopiar, ficar observando o movimento dos próprios dedos perto do rosto em frente aos olhos, jogar ou bater coisas, franzir o rosto, piscar forte, coçar alguma parte do corpo, correr em círculos, dentre outros.
  20. Podem produzir alguns tipos de sons repetidamente, como: gritar, vocalizações de sons específicos tais como “hum-hum” ou algo que imite máquinas, alarmes ou sirenes, etc.
  21. Pode haver agitação motora: andar, correr, gritar ou falar muito, com frequência e intensidade maior que o que normalmente se percebe em crianças sem o transtorno.
  22. Dificuldade para lavar-se ou vestir-se sozinho em relação ao esperado para a idade. Movimento corporal desajeitado, por exemplo: sempre deixa cair objetos, bate a cabeça/perna/braço nos móveis ou nas pessoas, abraça forte/se joga/debruça nos adultos sem perceber ou compreender que a ação incomoda ou machuca, apesar das reações e chamadas de atenção das pessoas ou das explicações que recebe.
  23. O correr e o andar podem ser estranhos, sem balanço dos braços ou “gingado” natural, dando a impressão de “robozinho”.
  24. Pode andar na ponta dos pés.
  25. Cerca de 30% das crianças com autismo desenvolvem epilepsia.
  26. Cerca de 70% das crianças com autismo têm déficit intelectual e o restante têm inteligência normal ou acima da média.
  27. Dificuldade para perceber as emoções, intenções e expressões faciais dos outros, se imaginar no lugar do outro e compreender o tipo de emoção que as ações deles causam no outro. Alguns exemplos: não demonstram pesar quando alguém chora, ficam bravos quando alguém ri, querem o brinquedo do colega, mas não emprestam o deles, não querem que façam barulho, mas eles mesmos são barulhentos.
  28. Não têm índole agressiva e maldosa; as explosões de raiva são geralmente em resposta a algum agente estressor ou hiperestimulante, a terem alguma vontade negada ou à invasão do espaço deles.
  29. Têm resistência a receber explicações ou manter a atenção em assuntos que não sejam os de seus interesses específicos, o que pode ser um problema na escola.
  30. Expressam afeto mais facilmente em relação aos animais e a objetos preferidos; embora algumas crianças mais severamente afetadas pelo autismo tenham grande dificuldade na formação de vínculos, até mesmo em relação aos próprios pais, elas geralmente expressam afeto e muitas gostam de beijos e abraços, mas geralmente quando elas próprias tomam a inciativa e não os outros. É comum “delegarem” o afeto caso estejam ocupadas ou entretidas em algo, por exemplo, a mãe pede um abraço e a criança diz que não pode naquele momento e fala para a mãe pedir o abraço para o papai. Em situações de despedida ou reencontro, como, por exemplo, quando os pais deixam os filhos na escola ou vão buscá-los, a criança com autismo pode simplesmente entrar na escola sem qualquer despedida ou, ao saírem da escola, passar pelos pais que estão ali esperando como se nem notassem a presença deles, ignorando-os completamente, assim como ignoram o “oi” ou o “tchau” dos colegas e/ou de outras pessoas.
  31. Contato visual prejudicado: não olham nos olhos ou olham de forma rápida, mais para localizar algo do que comunicar-se pelo olhar.
  32. Situações, objetos ou situações corriqueiras/comuns no dia a dia, ganham extrema significância, como, por exemplo, resposta exageradamente ansiosa e temerosa frente a eventos aparentemente sem importância, como a criança ficar consternada por ter perdido o pedaço de linha com o qual estava brincando, inconformada por ter encontrado uma pequena sujeira na mochila da escola ou apavorada porque alguém entrou correndo no ambiente ou riu alto perto dela.
  33. Não costumam compartilhar suas experiências com os demais, por exemplo: não contam para os pais como foi o dia na escola, ou para os colegas ou professores como foi uma viagem ou o que fez no fim de semana.
  34. Do mesmo modo, não compreendem ou demostram interesse pelas experiências alheias, desligando-se do que lhes está sendo contado, preferindo focar a atenção em algum assunto ou objeto especifico de seu interesse.
  35. Geralmente não fazem perguntas sobre as pessoas e não demonstram interesse nas conversas dos outros.
  36. Se interrompidas numa atividade, brincadeira ou organização de objetos, podem ter explosões de raiva, jogando ou batendo coisas, fazendo birra, gritando ou chorando, quase sempre de forma mais intensa e duradoura do que geralmente se observa em crianças típicas.
  37. Excelente memória.
  38. Habilidades específicas com números, leitura/escrita, desenho ou montagem de coisas são comuns. Tais habilidades podem até mesmo ser excepcionais, como a capacidade de fazer cálculos mentais complexos em segundos, saber todos os nomes de todos os ex-presidentes e vice-presidentes de um país ou recitar o alfabeto de trás para frente e de frente para trás aos 2 anos de idade, desenhar um mapa apenas contando com a memória, com perfeição de cor e formas, por exemplo.
  39. Excelente percepção visual e detalhismo.
  40. Perfeccionismo acentuado.
  41. Gosto por passar um tempo longo em atividades simples, familiares e repetitivas, como abrir e fechar algo, enfileirar objetos ou desenhar uma mesma coisa, por exemplo.
  42. Têm baixíssima tolerância à frustração, o que muitas vezes se converte em choro excessivo, explosões, tom de fala sempre lamurioso, reclamações e protestos frequentes.
  43. Temperamento com tendência negativista, do contra, opositor.
  44. Pode haver comportamento de autoagressão: morder-se, bater-se, arranhar-se, cutucar feridas e bater a cabeça na parede/chão são alguns exemplos.
  45. Crianças mais comprometidas, ou seja, no lado mais severo do espectro, podem ter muita dificuldade em aprender a usar o banheiro e deixar as fraldas, o que pode acabar acontecendo somente por volta dos 7 ou 8 anos de idade. Podem também ter interesse por brincar com os próprios excrementos.


 

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2 comentários sobre “Características de Crianças com Autismo Clássico

  1. Boa noite, achei muitas características q se encaixa em meu filho, não temos laudo dele, porém alguns médicos já descartaram a hipótese do autismo, mas as características são muitas, a fono q o acompanha desde pequeno discorda, mas dois dos médicos q levei já negaram ser autismo. Eu continuo na luta, de saber o que acontece com meu filho.

    • Quando o autismo é mais leve, é muito comum que médicos não reconheçam os sintomas. Se há várias características da lista de autismo no seu filho e a fono discorda dos médicos, é provável que ele esteja inserido no espectro do autismo e os médicos não tenham percebido. Isso também acontece porque o médico não é especialista, ou não é da área certa (geralmente deve-se levar a criança a um psiquiatra infantil, foi nessa especialidade que você o levou?). Sugiro a leitura desse outro artigo, sobre o processo diagnóstico, que pode ajudá-la bastante: https://sindromedeasperger.blog/2017/07/15/sindrome-de-asperger-diagnostico-e-tratamento/
      Seja sempre bem-vinda ao blog.

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