Um dos ambientes mais importantes para uma criança, com ou sem Asperger, é, depois do lar, sem dúvida, a escola. No entanto, a dificuldade que crianças com Asperger encontram em adaptar-se a esse tipo de ambiente é gigantesca, assim como é igualmente grande a dificuldade que a maioria massiva das escolas tem em conseguir oferecer os recursos necessários para não condenar essa criança ao desenvolvimento de fobia escolar e inevitável evasão.
Para que a escola seja capaz de atender as necessidades especiais dessa criança, algumas adaptações precisarão ser feitas, muitas vezes flexibilizando questões culturais e normas internas da instituição. Os pais precisarão trabalhar em conjunto com a coordenação e professores para “traduzir” o mundo da criança para a escola e o mundo da escola para a criança. Serão os pais aqueles que fornecerão informações valiosas sobre os pontos fortes, as fragilidades e motivações da criança de forma a facilitar o acesso do professor a ela, além de minimizar muitos dos problemas potenciais.
Crianças no espectro do autismo só terão a chance de uma inclusão bem-sucedida no ambiente escolar se família e escola trabalharem em conjunto, e não unilateralmente. Só a escola não dará conta de auxiliar efetivamente essa criança, assim como somente os pais, sem o apoio e abertura da escola, também não conseguirão oferecer o auxílio necessário.
Para que essa parceria funcione, tanto os pais precisam estar comprometidos em trabalhar a favor da escola, como a escola precisa ser receptiva, perceptiva e sensível para as particularidades da criança. Isso inclui um cuidado dos profissionais da educação, especialmente aqueles com muitos anos de experiência na área de ensino, em não estabelecer ideias pré-concebidas angariadas em sua jornada profissional em relação a como se deve lidar ou compreender a criança, pois é comum que queiram aplicar seus conhecimentos e forma de atuação a todas as crianças da mesma forma, sem distinção, muitas vezes na melhor nas intenções, mas com consequências bastante sérias para uma criança que não tenha um funcionamento cerebral igual ao das outras crianças.
É vital compreender que a criança com Asperger tem um sistema de funcionamento bastante atípico em relação ao que se espera que uma criança goste ou faça, e que os pais daquele único filho conhecem muito mais a fundo esse funcionamento do que o professor com 30 anos de experiência, mas com crianças típicas, ou seja, sem Asperger.
As orientações e recomendações que os pais fazem à escola poderão parecer excessivamente detalhistas e superprotetoras num primeiro momento, mas os pais geralmente têm razão quanto às fragilidades que apontam na criança. O quadro de Asperger é muito complexo e o segredo para que as coisas fluam no mundo interno dessas crianças está justamente nos detalhes: o tom de voz do professor, a escolha do vocabulário quando se conversa com a criança, o produto de limpeza que foi usado no ambiente, o perfume usado pelo professor, o nível de barulho na sala de aula, a forma de apresentação da atividade, a forma como cada alteração no ambiente é conduzida, o local da sala onde a criança senta… tudo isso é muito mais importante do que adultos sem autismo acostumados a lidarem com crianças também sem autismo costumam achar que seja.
Por isso, os pais poderão fornecer uma espécie de “script” sobre como lidar, o que fazer e o que nunca fazer no convívio com essa criança. No início, o professor poderá se sentir sobrecarregado pelo excesso de informações e confuso sobre como aplicar tantos detalhes no contato com a criança, mas o que facilita é que, incrivelmente, muita coisa é como se fosse um “manual”, dada a natureza rígida e repetitiva da criança, e, uma vez tendo aprendido aquelas “instruções de funcionamento”, a tendência é que tudo passe a fluir muito melhor e mais facilmente tanto para a criança como para o professor a partir do momento em que uma rotina se estabelecer. Sobretudo, é preciso boa vontade, paciência, disposição sincera em ajudar e delicadeza no trato. Essas são características importantes para qualquer professor, mas fundamentais para professores de crianças com necessidades especiais.
A troca de professores é outro problema. Aprender a lidar com a criança leva algum tempo e até que isso aconteça muitos percalços podem surgir. Se pensarmos que o tempo médio para que o professor passe a compreender melhor a criança é de cerca de 3 meses e só então pode começar a haver progresso, e imaginarmos um ano letivo que se inicie em fevereiro, o professor só começará a lidar efetivamente com aquela criança na metade do ano. Quando a criança estiver, de fato, familiarizada com a forma de atuação daquele professor e o professor com as particularidades da criança, já estarão na metade final do ano e alguém totalmente novo logo virá, requerendo esforços adaptativos enormes de ambas as partes mais uma vez. Além disso, há o risco de que o novo professor não tenha características pessoais que facilitem o processo, o que pode acarretar em resistência e fobia escolar na criança.
Não é incomum que pais de crianças com autismo acabem tirando o filho da escola e adotando a modalidade de ensino conhecida como homeschooling, que é o ensino domiciliar, ainda em fase de aprovação legal, quer seja por que a criança foi vítima de bullying, quer seja por não ter conseguido se adaptar ao ambiente da escola – que é um local repleto de estímulos hostis às suas sensibilidades, ou ainda por insatisfação com o progresso do filho.
O excesso de socialização, barulho, agitação e expectativa de um lugar como a escola exigem muito da criança com Asperger e sem o manejo adequado a criança terá pouca chance de progredir.
Quanto ao progresso, vale ressaltar que as expectativas dos professores precisam ser adaptadas às características da criança com autismo: haverá áreas onde ela apresentará excelente progresso, enquanto haverá outras em que seu progresso permanecerá aquém. Crianças com autismo costumam apresentar hiperfocos, interesses restritos e dificuldade em abarcar o todo. Estes são traços duradouros, que estarão sempre presentes na vida da pessoa autista.
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